domingo, 21 de outubro de 2012

A formação do Paladar das Crianças: o difícil papel dos pais nos dias de hoje





  
A maioria das jovens mães é dedicada, preocupada e procura se manter informada desde a gestação e durante cada etapa do desenvolvimento do bebê e da criança. Essas mãezinhas são literalmente bombardeadas com informações sobre hábitos, educação, alimentação e tudo mais que se possa imaginar. Informações que chegam por todos os meios: internet, livros, revistas, amigas, parentes, dicas da vizinha. 

Na teoria, tudo funciona muito bem. Mas muitas vezes percebemos que, na prática, as coisas não andam bem do jeito que a gente imaginava... aí vem o sentimento de culpa, por sermos tão relapsas, despreparadas, inexperientes.

Pior ainda se a mãe tem que ir trabalhar, soma-se a isso o sentimento de ausência. Mas calma, você não é a única. A maternidade e as culpas andam juntas, desde que o mundo é mundo as mães se sentem responsáveis por tudo o que acontecem com sua prole. Mas não vamos cruzar os braços, sentar e chorar... não há tempo para isso! Há um bebê lindo te esperando, com sede de aprender e absorvendo tudo o que vê em sua volta.

Não vamos abster a responsabilidade de algumas mães que se preocupam muito mais com futilidades que com a criação, educação ou alimentação de seu pequeno. Mas essa não é a regra, a maioria das mães é sim muito zelosa e dedicada, se preocupa de verdade.





Deliciosas guloseimas

Muitas mães têm necessidade de confiar o cuidado dos pequenos a outras pessoas, funcionárias, escolinhas, tias ou avós, durante o período que estão no trabalho ou em outros compromissos que não podem levar as crianças.

Observo diariamente no consultório uma dificuldade comum entre essas mães. Não são raros os casos de mães nos contarem, quase como um desabafo, que têm dificuldade de controlar os doces, refrigerantes e guloseimas e que sentem dificuldade em reprimir alguns adultos que insistem em oferecer esses alimentos para a criança sem o consentimento da mãe. “É só para experimentar, um pouquinho de chocolate ou um gole de refrigerante não vai fazer mal!” Mas atenção queridas avós, tios, tias e amadas madrinhas... este é um assunto sério, pois o paladar da criança é formado nos primeiros anos de vida.


Quando o bebê nasce sente gostos, mas não de forma muito desenvolvida, o paladar vai se desenvolvendo aos pouco, com o tempo. Por volta dos 2 ou 3 anos de idade é que as preferências e rejeições começam a aparecer com mais nitidez. Por isso a importância de manter os pequenos bem longe desses alimentos açucarados e engordurados até uma certa idade. 
Com o tempo, eles vão conhecer estes alimentos, mas seu paladar já estará mais formado e treinado para alimentos mais saudáveis.


Os sabores da vida

Existem quatro sabores: doce, salgado, amargo e ácido. Pesquisas demonstram que bebês têm preferência pelo doce. Sorriem quando recebem açúcar e fazem caretas quando provam o amargo. Odores, texturas e o prazer que a comida proporciona também ajudam a formar o paladar da criança. O bebê já nasce com certa predisposição para gostar de uma comida e fazer cara feia para outras, mas a educação que recebe também vai influenciar.



As técnicas de pressão do tipo: "Se não comer a salada, não ganha sobremesa" não são muito apropriadas. Pode resolver em um primeiro instante, mas a idéia de que depois da tortura vem a recompensa só piora a noção de que vegetais e legumes são ruins. Se as crianças percebem os pais comendo abóbora, couve ou brócolis com satisfação vão associar o prazer àquele alimento, e assim fica mais fácil gostar desses alimentos. 


Prevenindo problemas ortodônticos

As crianças preferem os alimentos pastosos e mais fáceis de mastigar. Entretanto, desde cedo o bebê deve ser acostumado a sentir os pedacinhos dos alimentos e incentivado a mastigar alimentos mais duros, para um melhor desenvolvimento dos ossos maxilares e conseqüente prevenção à problemas ortodônticos futuros. Se as papinhas e sucos forem peneirados, mais tarde o bebê terá dificuldade de aceitar alimentos mais duros ou com fibras.

Antes do nascimento dos dentes, o ideal é sempre amassar a papinha um garfo (nunca bater no liquidificador). Conforme os dentinhos vão nascendo, os pedacinhos de alimentos vão gradativamente aumentando de tamanho. Assim, quando a criança tiver todos os dentinhos, não sentirá dificuldades em mastigar bem e engolir alimentos mais duros, como a carne por exemplo.



O desenvolvimento dos maxilares nos primeiros anos de vida tem muita relação com os hábitos da criança. Uso prolongado de chupeta, mamadeira e chupar o dedo são muito prejudiciais, isso todos nós sabemos. O que muita gente não sabe é que a consistência da alimentação também pode influenciar do desenvolvimento normal da maxila e da mandíbula.

Alimentos mais duros, como cenoura, carne ou maçã, estimulam a mastigação, o fortalecimento dos músculos ao redor da boca e melhoram o desenvolvimento da mordida (oclusão). Após o nascimento do dentes, alimentos mais pastosos devem ser oferecidos com moderação. Mingaus ou o excesso de mamadeiras diárias não contribuem com o crescimento transversal dos maxilares (largura). A falta de crescimento transversal pode levar ao estreitamento da arcada dentária e apinhamento dos dentes (falta de espaço).

Há outros fatores que podem levar à falta de espaço para os dentes, como a genética, a respiração bucal, entre outros - mas os hábitos alimentares estão sob o controle dos pais desde muito cedo. Depois de um hábito alimentar ruim instalado, é muito mais difícil alterá-lo.




Nunca experimentou e diz que não gosta

Algumas crianças se recusam a experimentar alimentos que não conhecem. Esse fenômeno tem um nome: é a neofobia alimentar. Faz parte do instinto, necessário para a sobrevivência, pois não se sabe se o alimento novo é seguro para a saúde. Entre os 2 e os 10 anos, e principalmente entre os 4 e os 7 anos, 77% das crianças se recusam a comer o que não conhecem.*





Muitas crianças rejeitam as verduras. Existem algumas teorias, mas nenhuma conclusão, para explicar o fenômeno. A primeira é de que, quando nascem, os bebês seguiriam o instinto básico de comer para aplacar a fome. Pensando assim, massas e doces satisfazem mais rápido que um prato cheio de verduras. Outra linha de pensamento é de que verduras têm gosto forte, às vezes amargo, o que desagrada ao paladar infantil. Uma terceira hipótese diz que, como no passado os seres humanos sabiam que os vegetais podiam ser venenosos, ainda olhamos para eles com desconfiança.*



Participar do preparo dos alimentos



Uma boa dica é a familiarização. As crianças aceitam melhor um alimento que ajudaram a preparar, lavaram, picaram, arrumaram no prato. Seu filho vai olhar a comida com uma atitude mais favorável.  Ofereça as frutas picadinhas ou em palitos. Dizer para a criança comer porque faz bem para a saúde não funciona. Tentar comprar a criança com recompensas ou presentes não é uma boa forma de educar. É melhor ensiná-la para sentir prazer e apreciar o gosto dos alimentos.


Uma pequena horta em casa



Quem sabe fazer uma pequena horta, até mesmo em um pequeno vaso ou floreira, e ensinar para esta nova geração de onde vêm os alimentos. Cenoura, moranguinho, alface, tomates cereja, regados com um pouco de água e muito carinho, com a ajuda dos pequenos, podem mudar a visão das crianças em relação aos alimentos.





Como parte da formação do paladar vem do aprendizado, os pais têm papel fundamental. Se, desde pequenos, os filhos têm uma alimentação saudável, com pouca gordura, pouco sal, que privilegia produtos naturais, eles vão crescer aprendendo a apreciar aqueles pratos.


Não adianta, porém, querer que o filho coma manga ou ameixa se os pais não dão o exemplo: a criança aprende mais observando o comportamento dos pais do que ouvindo o que eles falam. E também não adianta proibir o refrigerante, se todos os dias aquele rótulo vermelho e chamativo fica em cima da mesa de refeições, bem na frente do bebê.




A criança não sabe naturalmente o que é bom para ela. Se a decisão for deixada para a criança, ela vai escolher os alimentos de que gosta mais: frituras, doces, macarrão. A responsabilidade sobre a alimentação dos pequenos ainda é dos pais. São eles que devem decidir o que vai ser servido à mesa todos os dias e o que só entra de vez em quando.

Quem ama, cuida. 


Por Luciana Belomo Yamaguchi 
Algumas informações (*) foram obtidas na Revista Crescer