quarta-feira, 23 de março de 2011

Você viveria sua vida de novo?



 


Saramago afirma que sim, viveria, repetidamente, sua vida de novo, da forma exata como foi. Mas quantas pessoas diriam "sim" à pergunta? Não sei entre meus parentes e amigos.

Eu mesma gostaria de editar novamente alguns capítulos de minha vida. Acho que num ponto ou noutro eu remendaria uns espaços em branco. Umas tantas incompreensões seriam revisadas. Algumas páginas eu gostaria de fazer uma releitura com o ponto de vista que tenho hoje. Outros momento, repetiria mais vezes, com mais intensidade, paixão, doação.

Não é fácil responder se faria tudo outra vez. Tudo, acredito que não. Não é que esteja errado. Foi o melhor que pude fazer naquela época, naquela situação. Eu não sabia fazer melhor que isso. Mas porque não tomamos o caminho certo? Nem sempre é questão de enxergar o caminho apenas. O que é o certo?



"E se" é sempre difícil de responder. Mas dá gosto pensar "e se" de vez em quando. Para Paulo Leminski, autor curitibano, "ninguém nunca chegou atrasado". A gente está onde deve estar naquele momento. Assim fica mais fácil viver. Tinha que ser daquele jeito, pelo menos naquela hora.

Mudando o passado, o “The End” não seria o mesmo. Seria um outro, melhor? Difícil saber. A nossa história mudaria toda. Deixaríamos de conhecer pessoas incríveis também. 
"Não há fatos eternos como não há verdades absolutas": Nietzsche nos convida a viver de tal modo que nem os arrependimentos nem os remorsos tenham mais nenhum espaço, nenhum sentido.



Quantas vezes quisemos ver mais adiante para ver se valia a pena aquele caminho, aquela escolha?

Diante do meu notebook, posso ver se a disposição dos armários ficará boa ou se caberão todos os móveis na casa nova. Seria tão bom se existisse uma tecla "undo", o desfazer, na vida também. A gente tenta acertar, buscar a felicidade. Muitas vezes acertamos sim. Mas nem sempre. É assim mesmo. Essa é a beleza da vida. Afinal, "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é". (Caetano Veloso). 

O filme Efeito Borboleta é assim. A Dona da História também. Faz a gente pensar além do filme. Lembrar que tudo são escolhas e que cada detalhe nos leva a um caminho, a um longo caminho. Para todo “sim” existe um “não”. Para toda escolha você abre mão de alguma coisa, senão não seria uma escolha. Não dá para ter tudo o tempo todo. É a vida.



Eu não sei se viveria tudo de novo, do mesmo jeitinho. Eu compraria aquela passagem? Naquele dia? Para aquele lugar? Eu diria aquele sim ou aceitaria aquele convite? E aquele beijo? Viajaria para o Alasca, Austrália? Permaneceria quieta? Deixaria de ir?

A vida boa é a que consegue viver o instante sem referência nem ao passado nem ao futuro, sem condenação pessoal, com leveza absoluta, com o sentimento perfeito de que não há mais diferença real entre o passado e a eternidade. (Nietzsche)

Pensa no seu presente. Nas pessoas que você ama. Faz o bem para todos, sem distinção. Consequências virão. Boas ou ruins. Mas você fez o melhor que podia, pelo menos no momento que está vivendo.  Se você não fez melhor, é porque não deu. É porque você não estava preparado ainda ou porque havia outras variáveis na equação, e você não tinha essa HP 50 g que tem hoje. Talvez agora você nem se lembre mais desse detalhe.  Se perdoe. 

“Lembra-te de que cada um de nós só vive no momento presente, no instante. O resto é passado, ou o obscuro futuro. Pequena é, pois, a extensão da vida.” (Marco Aurélio)




Por Luciana Belomo Yamaguchi. Baseado no texto de Ana Elisa Ribeiro, Digestivo Cultural, e no livro Aprender a Viver - Filosofia para os novos tempos, de Luc Ferry.