Um estudo da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, comprovou que pessoas felizes tendem a viver mais e ter uma vida mais saudável que os infelizes. As pesquisas foram lideradas pelo psicólogo e professor da universidade Ed Diener, e analisaram também outros 160 estudos na área que buscavam comprovar a mesma tese. Esta pesquisa foi publicada na revista especializada Applied Psychology: Health and Well-Being (Psicologia Aplicada: Saúde e Bem-Estar).
Cinco mil universitários foram acompanhados por 40 anos de suas vidas. Os resultados da pesquisa mostraram que os mais pessimistas tendiam a morrer mais cedo ou a desenvolver doenças antes dos alunos que encaravam tudo de forma leve e positiva durante a vida universitária.
Segundo Ed Diener a ansiedade, a depressão, a falta de entusiasmo com a vida diária e o pessimismo estão todos associados ao desenvolvimento mais rápido de doenças. “Todos esses estudos apontam para a mesma conclusão: a saúde e a longevidade, são influenciadas por nosso humor. Os estudos atuais estão focados em quatro alertas: evite a obesidade, tenha uma alimentação saudável, não fume e faça exercícios. Talvez seja a hora de adicionar à lista: "seja feliz, evite guardar as mágoas, a raiva crônica e a depressão", disse o pesquisador.
A busca da felicidade
“As leis que governam a felicidade não foram desenhadas para nosso bem-estar psicológico, mas para aumentar as chances de sobrevivência dos nossos genes a longo prazo” (Robert Wright, escritor e psicólogo americano à revista Time). A lógica é a seguinte: quando fazemos algo que aumenta nossas chances de sobreviver ou de procriar, nos sentimos muito bem. Tão bem que vamos querer repetir a experiência muitas vezes.
A busca da felicidade é o combustível que move a humanidade – é ela que nos força a estudar, trabalhar, ter fé, construir casas, realizar coisas, juntar e gastar dinheiro, fazer amigos, casar, separar, ter filhos e protegê-los. Ela nos convence de que cada uma dessas conquistas é a coisa mais importante do mundo e nos dá disposição para lutar por elas.
Mas tudo isso pode ser uma ilusão se pensarmos que a cada vitória surge uma nova necessidade.
A felicidade como uma obrigação
Vivemos uma época em que ser feliz o tempo todo é uma obrigação – as pessoas tristes são indesejadas, fracassadas. O francês Pascal Bruckner, autor do livro A Euforia Perpétua, foi bem conclusivo ao afirmar que “a depressão é o mal de uma sociedade que decidiu ser feliz a todo preço”. Muitos de nós estão fazendo força demais para demonstrar felicidade, em casa, no trabalho, aos amigos – e sofrendo por dentro por causa disso. Felicidade está virando um peso: uma fonte terrível de ansiedade.
Prazer, engajamento & significado
“Buscar a felicidade” é uma meta meio vaga, fica difícil até de saber por onde começar, diz o psicólogo americano Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia. Ele afirma que para chegarmos à felicidade devemos buscar três coisas: prazer, engajamento e significado, e que um dos maiores erros das sociedades ocidentais contemporâneas é concentrar a busca da felicidade apenas na busca do prazer.
Encontramos prazer quando dançamos uma música boa, ouvimos uma piada engraçada, conversamos com um bom amigo, fazemos sexo ou comemos chocolate. Nossos olhos brilham, nosso sorriso se espalha...
Já engajamento é a profundidade de envolvimento entre a pessoa e sua própria vida, ser ele mesmo e estar absorvido pelo que faz. Gostar de ser como é, ter relacionamentos mais profundos e verdadeiros.
Algumas pessoas são capazes de se engajar em tudo: entram de cabeça nos romances, doam-se ao trabalho, dão tudo de si a todo momento. Isso é raro e ninguém precisa ir tão longe, mas o esforço de estar atento ao mundo, participando da vida, vale a pena.
Algumas pessoas são capazes de se engajar em tudo: entram de cabeça nos romances, doam-se ao trabalho, dão tudo de si a todo momento. Isso é raro e ninguém precisa ir tão longe, mas o esforço de estar atento ao mundo, participando da vida, vale a pena.
Mihaly Csiksz, pesquisador da Universidade de Chicago, afirma que devemos buscar o engajamento em atividades nas quais se possa usar todo o seu talento. Tem de ser um desafio não muito fácil a ponto de ser entediante, nem tão difícil que se torne frustrante. Procurar experiências desse tipo é recompensador e traz níveis bem altos de felicidade. Trabalhar no que você gosta ou ter um hobby - pode ser uma atividade manual, intelectual ou um esporte - pode ajudar na busca por engajamento.
E, finalmente, significado é a sensação de que nossa vida faz parte de algo maior, reconhecer, de alguma forma, a razão de viver. Há milênios, a humanidade encontra apoio na crença de que cada um de nós faz parte de uma ordem maior. Pesquisas mostram que as pessoas religiosas consideram-se, na média, mais felizes que as não-religiosas – elas também têm menos depressão, menos ansiedade e suicidam-se menos.
A crença de que Deus está nos observando, nas palavras do psicólogo e estudioso da religião Michael McCullough, da Universidade de Miami, é uma espécie de “equivalente em grande escala do pensamento ‘se eu não conseguir pagar o aluguel, meu pai vai ajudar’”. Ou seja, é um conforto, uma garantia de que, no final, as injustiças serão corrigidas e nossos esforços, reconhecidos.
Ser infeliz é preciso
Felicidade, por definição, é um estado no qual não temos vontade de mudar nada. Mas é a busca da felicidade que nos empurra para a frente. Portanto, um pouco de ansiedade, de insatisfação, é saudável. Mora aí um dos grandes problemas atuais: acreditar que é possível viver uma existência só de altos, sem nenhum ponto baixo, sem tristeza, sem sofrimento.
O conselho do Dalai-Lama é que, quando as coisas estiverem mal, respire fundo e tente descobrir o porquê da situação. Segundo ele, grande parte da dor é criada por nós mesmos, pela nossa inabilidade de lidar com a tristeza e pela sensação de que somos obrigados a ser sempre felizes.
Fonte: Revistas Superinteressante, Época e Time, Livros A Euforia Perpétua (Pascal Bruckner), Arte da Felicidade (Dalai-Lama).