sábado, 8 de junho de 2013

O poder dos pequeninos


Quem trabalha com crianças assiste a situações difíceis diariamente. Em algumas famílias o poder está nas mãos das criancinhas e os pais parecem encolher os ombros numa atitude de completa impotência. Vemos que, desde tenra idade, os petizes põem e dispõem a seu belo prazer.

As queixas dos pais são variadas. Existem aqueles que não conseguem que os filhos durmam no seu próprio quarto, os outros que se vêem obrigados a comer constantemente fastfood. Não é incomum ouvir a queixa dos pais sobre a dificuldade de dar a medicação prescrita pelo médico porque a criança não quer, ou porque faz uma birra que o impede. A criança não quer e não deixam os pais escovarem seus dentes e, muitas vezes, os pais cedem. Em desespero de causa, os pais recorrem aos psicólogos.

Move-os a esperança de que a ajuda profissional lhe dê uma poção mágica que resolva de imediato a situação ou que, em alternativa, lhes diga que o filho sofre de uma doença qualquer que justifique o seu comportamento.

Hiperativos … ou falta de regras?

O que mais está na moda é achar que as crianças são todas hiperativas. Ao se colocar esse rótulo, desculpabilizam-se os pais que podem então encolher ainda mais os ombros, ao mesmo tempo que lamentam a má sorte que os levou a gerarem um filho com um problema deste tipo.

O azar (ou sorte) é que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade não é tão comum como se pensa e o diagnóstico obedece a critérios muito precisos. Assim, o que acontece com frequência é que o comportamento das crianças não se deve a nenhuma patologia mental, mas sim à falta de regras que depois resvala em atitudes de má educação.

Obviamente que se comportam pior quando estão na presença dos pais, o que conduz à situações muito incômodas. Gritam, esperneiam, dizem palavrões, mexem em tudo, dão pontapés nas portas...Os pais tentam em vão travá-los por todos os meios mas, claro está que é tarde, já que a educação de base é dada em casa.


A educação tem de ser um processo contínuo

Os pequenos teimam em não obedecer (até porque não estão habituados a isso) e seguem-se as tradicionais palmadas e os habituais choros e gritos estridentes. Muitos pais, ao serem confrontados referem que as suas atividades profissionais os impedem de estar com os filhos e que, por isso mesmo, não querem manchar o convívio com repreensões e castigos.

Chegam a colocar a responsabilidade nos avós porque são eles que estão mais tempo com os netos e que, por isso mesmo, lhes deveriam ditar regras de conduta. É, de fato, uma nova maneira de viver a parentalidade, já que parece haver uma tendência para a desresponsabilização.

O tradicional papel de pai como figura de autoridade que as crianças se habituavam a respeitar, deu lugar ao pai-amigo que evita desempenhar o papel de “mau da fita” e, por isso mesmo, coloca a responsabilidade da educação dos filhos ou na escola, nos avós ou em quem cuida. Quando nem um nem outro funciona, assume-se que a criança tem um problema do foro mental e então há que procurar o psicólogo.


Detectado o foco da questão, quando confrontados, os pais adotam um de dois tipos de atitude, ou se sentem altamente culpados e decidem esforçar-se por mudar, ou então negam a realidade, assumem que o psicólogo não está sendo eficiente e procuram outro profissional. Tudo isto é grave se pensarmos que são estas crianças que formam as novas gerações.

Espera-nos, então, uma sociedade em que os adultos não têm regras e são incapazes de resistir a frustrações? Frustrações fazem parte da vida, precisamos ensinar isso às nossas crianças.

Baseado no texto da autoria de Drª Teresa Paula Marques
Psicóloga Clínica, especialista em Psicologia Infantil e do Adolescente