terça-feira, 30 de julho de 2013

A essência do existir

Un jeune enfant regardant des figures dans un livre
Anne-Louis Girodet de Roussy-Trioson (1767-1824)


Terapia do Joelhaço...  agora, por Martha Medeiros.


Sentado em sua poltrona de couro marrom, ele me ouviu com a mão apoiada no queixo por 10 minutos, talvez 12 minutos, até que me interrompeu e disse: “Tu estás enlouquecendo”.

Não é exatamente isso que se sonha ouvir de um psiquiatra. Se você vem de uma família conservadora que acredita que terapia é pra gente maluca, pode acabar levando o diagnóstico a sério. Mas eu não venho de uma família conservadora, ao menos não tanto.
* * *
Comecei a gargalhar e em segundos estava chorando. “Como assim, enlouquecendo??”

Ele riu. Deixou a cabeça pender para um lado e me deu o olhar mais afetuoso do mundo, antes de dizer: “Querida, só existe duas coisas no mundo: o que a gente quer e o que a gente não quer”.
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Quase levantei da minha poltrona de couro marrom (também tinha uma) para esbravejar: “Então é simples desse jeito? O que a gente quer e o que a gente não quer? Olhe aqui, dr. Freud (um pseudônimo para preservar sua identidade), tem gente que faz análise durante 14 anos, às vezes mais ainda, 20 anos, e você me diz nos meus primeiros quinze minutos de consulta que a vida se resume ao nossos desejos e nada mais? Não vou lhe pagar um tostão!”
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Ele jogou a cabeça pra trás e sorriu de um jeito ainda mais doce. Eu joguei a cabeça pra frente, escondi os olhos com as mãos e chorei um pouquinho mais. Não é fácil ouvir uma verdade à queima-roupa.

“Tem gente que precisa de muitos anos para entender isso, minha cara”. Suspirei e entendi a homenagem: ele me julgava capaz daquela verdade sem precisar frequentar seu consultório até ficar velhinha. Além disso, fiz as contas e percebi que ele estava me poupando de gastar uma grana preta.
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Tá, e agora, o que eu faço com essa batata quente nas mãos, com essa revelação perturbadora?

Passo adiante, ora. Extra, extra, só existe o seu desejo. É o desejo que manda. Esse troço que você tem aí dentro da cachola, essa massa cinzenta, parecendo um quebra-cabeças, ela só lhe distrai daquilo que realmente interessa: o seu desejo. O rei, o soberano, o infalível, é ele, o desejo. Você pode silenciá-lo à força, pode até matá-lo, caso não tenha forças para enfrentá-lo, mas vai sobrar o quê de você? Vai restar sua carcaça, seu zumbi, seu avatar caminhando pelas ruas desertas de uma cidade qualquer. Você tem coragem de desprezar a essência do que faz você existir de fato?
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É tão simples que nem seria preciso terapia. Ou nem seria preciso mais do que meia-dúzia de consultas. Mas quem disse que, sendo complicados como somos, o simples nos contenta? Por essas e outras, estamos todos enlouquecendo.

Two Young Girls Reading
Pierre-Auguste Renoir (1841-1919)

sábado, 27 de julho de 2013

Por que a "idade óssea" é importante para o ortodontista


A “idade óssea” pode ser verificada por um exame radiográfico da mão e do punho não dominantes, que pode ser empregado em ambos os sexos, para se avaliar o grau de amadurecimento dos ossos. Os métodos mais classicamente empregados são os de Greulich & Pyle e de Tanner & Withehouse.
A partir da idade óssea, pode-se ter uma melhor idéia do tempo que ainda resta para uma criança ou adolescente crescerem. A maturação esquelética pode ser diferente da idade cronológica, nem sempre representando um problema de saúde. Por meio da análise da idade óssea, o dentista avalia a possibilidade de contar ou não com o potencial de crescimento.  Destarte, essas informações auxiliam na decisão da melhor  época para o início do tratamento, como na abordagem utilizada (tipo de aparelho), permitindo a otimização dos resultados e diminuição no tempo de tratamento. O exame geralmente é parte da avaliação do crescimento e desenvolvimento sexual.  
Para a avaliação da radiografia da mão e do punho, o radiologista e o endocrinologista analisam o número de ossos presentes, o formato desses ossos e o espaço entre os mesmos. Após a avaliação de todos esses dados, então é realizado um laudo que mostra a “idade biológica” do indivíduo.
A idade óssea é considerada atrasada quando há uma diferença de 1,5 a 2 anos em relação à idade cronológica. Em uma criança saudável, isso indica que ela apresentará o início da puberdade mais tardio, portanto, também o estirão puberal (a fase de maior crescimento) e terminará o seu crescimento numa idade mais avançada. Geralmente há uma história familar semelhante (a mãe que menstruou mais tarde ou o pai que após se alistar no exército ainda continuou crescendo, por exemplo). Na grande maioria das vezes, o adolescente atingirá o seu potencial de crescimento, pois há espaço entre as placas de crescimento.
Caso a idade óssea esteja atrasada além de 2 anos em relação à idade cronológica, deve-se avaliar se há algum problema de saúde que esteja interferindo no crescimento e desenvolvimento da criança ou adolescente. A avaliação pelo Endocrinologista Pediátrico deverá ser então realizada.
Também é uma situação que demanda atenção quando há aumento da velocidade de crescimento e a idade óssea está adiantada em relação à cronológica. Um exemplo disso seria o quadro de puberdade precoce, que pode levar a consequências irreversíveis à estatura caso não seja tratado a tempo.



Cirurgias de redução de estômago: a odontologia na balança




Uma pesquisa inédita revela as alterações odontológicas do pós-operatório de uma das cirurgias de redução de estômago mais comuns no País, a Fobi-Capella. Alguns pacientes submetidos há mais de cinco anos apresentaram aumento excessivo de cáries, xerostomia, descal­cificação dentária, além de distúrbios alimentares (anorexia e bulimia).

A apuração da epide­miologia bucal revelou um quadro alarmante. Dos 45 pacientes operados antes de dezembro de 1999 acompanhados pela equipe no ambulatório da Clínica Cirúrgica do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCUSP), 88,9% apresentavam bruxismo noturno; 96,6% boca seca; 90% aumento do número de cáries, principalmente em superfícies lisas e 95% descalcificação dentária na superfície do esmalte. As possíveis causas destas alterações na saúde bucal ainda não foram apuradas.

São várias as hipóteses consideradas pelo grupo. As alternativas incluem alteração do pH salivar, que diminui a capacidade tampão da saliva; refluxo gastroe­sofágico; vômitos freqüentes; diminuição da secreção gástrica e redução da saliva e diminuição de absorção de nutrientes. E em relação ao bruxismo, o problema pode ser uma manifestação de tensão ou agressividade do paciente.

Estes casos fazem parte de um estudo multidisciplinar conduzido por cirurgiões-dentistas, cirurgiões gástricos, médicos e psicólogos.

Bruxismo

A psicóloga Marlene Monteiro da Silva, integrante da pesquisa, estuda pacientes portadores de obesidade mórbida há 20 anos. Ultimamente tem monito­rado os indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica há cinco e nove anos. Uma das questões estudadas por ela é o crescimento da agressividade do paciente após a intervenção, o que poderia justificar, em alguns casos, o aumento do bruxismo (ranger dos dentes).
Segundo Marlene, a agressi­vidade no estágio pré-cirúrgico pode ser camuflada com a obesidade. O excesso de comida é uma maneira encontrada pelo paciente para lidar com este problema. Após a cirurgia, torna-se difícil, inicialmente, ingerir a mesma quantidade de alimento. A restrição diminui o autocontrole do indivíduo operado, que passa a apresentar comportamentos mais agressivos. Apesar de muitas vezes o paciente não se dar conta desta postura, inconscientemente procura outra forma de atenuar o medo perante a agressividade. Por isso troca a compulsão por outros transtornos alimentares. “O bruxismo, neste caso, é uma forma de conter a raiva através do ato de ranger os dentes”, teoriza a psicóloga.
Em sua pesquisa com 75 pacientes operados, a média de peso após dois anos de cirurgia foi de 76,72 quilos e entre cinco e nove anos, de 90 quilos. “A diferença é significativa, mesmo considerando o ganho esperado de 10 quilos. E 7,84% preservaram o peso ideal ou emagreceram demasiadamente”, afirma a psicóloga.
Outra forma de compulsão é o consumo de álcool. O índice de alcoolismo entre os pacientes antes da cirurgia era de 2%. O índice subiu para 18% no período estudado pela equipe.

Entendendo melhor o problema

A obesidade é definida como um excesso do acúmulo de gordura no corpo. Enquadram-se como obesos os indivíduos com índice de massa corpórea (IMC) – peso dividido pela altura ao quadrado – maior que 30. Quando este acú­mulo atinge proporções exageradas, isto é o IMC ultrapassa os 40 quilos por metro quadrado, passa a ser chamado de obesidade mórbida. Para os casos de obesidade mórbida com doenças associadas, como hipertensão e diabetes, que não obtiveram sucesso em outros tratamentos contra a obesidade, indica-se a cirurgia de redução de estômago, também conhecida como cirurgia bariátrica. Mara­dona, o craque argentino, é um dos mais célebres pacientes deste tipo de alternativa para perda de peso.

As cirurgias de redução de estômago são divididas em três tipos: restritivas, desabsortivas e mistas. Os procedimentos restritivos limitam o volume de alimento sólido que o paciente ingere nas refeições. As técnicas desabsortivas desviam uma boa parte do caminho por onde os alimentos têm que passar, reduzindo a capacidade de absorção dos nutrientes no trato digestivo.
As técnicas mistas associam o conceito de restrição da in­gestão do bolo alimentar com a desabsorção (desvio intestinal menor). A técnica mais empregada no País atualmente, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica (SBCB), chama-se a Fobi-Capella ou by-pass gástrico com anel. Consiste na redução do estômago através do gram­peamento. O órgão é dividido em duas partes, uma menor, com capacidade aproximada para 30 ml, por onde o alimento transita, e outra maior, que permanece isolada. A pequena câmara, conhecida também como neocâ­ma­ra, é ligada ao intestino para que o alimento possa seguir seu curso natural. Além de limitar o volume de entrada do alimento, a Fobi-Capella reduz ainda a velocidade de esvaziamento do estômago com a aplicação de uma banda de contenção.
São justamente os sintomas apresentados por um grupo de pacientes submetidos à Fobi-Capella nos últimos cinco anos o objeto de estudo de um grupo multidisciplinar do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCUSP). O levantamento verificou que estes indivíduos apresentam aumento significativo de cáries, descalcificação dos dentes, bruxismo durante o sono e xerostomia, além de alcoolismo, e distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia.


Fome de viver

A obesidade, considerada hoje uma das doenças mais graves da humanidade, tornou-se um novo problema de saúde pública. Como a cárie, sua origem é multifatorial, ou seja, não existe uma única causa para sua existência. A cirurgia bariátrica é um procedimento efetivo no tratamento da obesidade mórbida. Porém, apesar do número crescente de cirurgias, são poucos os dados de avaliação pós-cirúrgica multidisciplinar para identificar as possíveis complicações e as alternativas para corrigi-las em uma equipe multidisciplinar.
A ocorrência de complicações representa importante decepção para o paciente, que pode não apresentar uma estabilidade emocional consistente na maioria dos casos. Daí a necessidade de atendimento psico­terapêutico especializado no pré e pós-cirúrgico imediato e acompanhamento pós-cirúrgico dos obesos mórbidos. O adequado preparo é indispensável para melhorar a assimilação e cooperação do paciente quando surgem os problemas inesperados.
O trabalho em equipe mul­tidisciplinar de suporte é imprescindível e é considerado um pré-requisito para o desenvolvimento de um projeto de cirurgia ba­riátrica em um centro especializado. Assim as complicações pós-operatórias são prontamente corrigidas pela equipe multi­disciplinar logo após a detecção.

“Nós, cirurgiões-dentistas, fazemos parte deste contexto, dentro deste acompanhamento pré e pós-operatório imediato e no fol­low­ up”, a­fir­ma a odontopediatra e a­ssistente do Setor de Endo­crinologia e Metabologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Maria Cecília de Luca Lemos, também membro da pesquisa com os pacientes submetidos à gastroplastia redutora Fobi-Capella. “No Brasil, a prevalência de obesidade aumentou muito na última década. Em especial para os adultos do sexo feminino, chegando a 13,3%; a taxa de ascensão da obesidade é de 0,36% ao ano para a população feminina e de 0,20% ao ano para a população masculina”, esclarece. Em sua opinião, a obesidade deve ser encarada como um problema de saúde pública de causa multi­fatorial e de espectro mundial e combatido com campanhas de orientação e conscientização.



O Brasil acima do peso
Trinta e oito milhões de pessoas (40% da população brasileira) estão acima do peso, com IMC igual ou superior a 25. Os dados pertencem à Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A briga com a fita métrica é acentuada com a idade, mas os homens têm maior facilidade para acumular peso extra de forma mais rápida do que as mulheres.
O estudo encontrou um maior número de brasileiros com so­bre­peso na faixa dos 20 aos 44 anos e na zona urbana. Já as brasileiras aumentam o peso nas faixas etárias posteriores e há mais mulheres com este problema nas zonas rurais do que nas cidades.
Do total de brasileiros acima do peso, 8,9% dos homens adultos e 13,1% das mulheres adultas do País podem ser considerados obesos, com IMC igual ou superior a 30. Os obesos representam cerca de 20% do total de homens e um terço do total de mulheres com excesso de peso, segundo o IBGE.

Fonte: Revista ABO Nacional n.73

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Água mineral e flúor

O flúor protege os dentes contra as cáries, isto é fato. A proteção é feita pelo contato com os dentes, não com sua ingestão. Por este motivo orientamos os pais a evitarem o uso de cremes dentais com flúor em crianças pequenas, até a idade que ela tenha coordenação motora suficiente para bochechar e cuspir, após escovar os dentes... em torno de 6 anos de idade, em média.
Por outro lado, como já dissemos, o flúor é muito importante na prevenção de cáries. Enquanto o flúor é adicionado na água de abastecimento público em 60% dos municípios do Brasil para reduzir a cárie dental, a maioria das águas minerais disponíveis no mercado não contém níveis ideais de flúor. Se a água mineral for sua fonte principal de água de consumo, você poderá não estar obtendo flúor em quantidade suficiente.
Diversos fatores são importantes para saber se você está recebendo ou não flúor suficiente, entre eles:
  • O nível de flúor na sua água mineral, que pode variar muito entre as diferentes marcas. Se a quantidade de flúor não aparecer no rótulo, peça informações à empresa responsável.
  • A quantidade de água mineral que você bebe durante o dia.
  • Se você usa a água mineral para beber, cozinhar ou preparar sopas, sucos e outras bebidas.
  • Se você também bebe água fluoretada na escola, trabalho ou outros lugares.
Se você bebe principalmente água mineral, você deve conversar com seu dentista sobre a necessidade de tratamentos complementares com flúor -especialmente se tiver filhos. Seu dentista pode recomendar complementação de flúor se achar que seu filho não está recebendo níveis adequados de flúor.
Excesso de flúor
O flúor, presente na maioria dos cremes dentais, se ingerido em excesso, entre 11 meses e 7 anos, momento da formação dos dentes, pode trazer manchas brancas. Em casos mais severos, os dentes podem ficar porosos e amarronzados. É a fluorose. 
Dentes com fluorose
 
O flúor está presente principalmente nos cremes dentais. Embora ele seja o principal vilão para o surgimento da fluorose, não é o único produto que traz flúor em sua composição. A água e alguns alimentos também podem conter a substância. A fluoretação artificial da água, que existe em algumas regiões, principalmente no sudeste do país, embora importante no controle da cárie da população, merece atenção. Na hora de preparar mamadeiras e comidas, em que ocorrerá ingestão de um volume maior de água, é importante substituí-la pelas minerais de garrafa.
Alguns alimentos consumidos principalmente pelas crianças, como achocolatados e bolachas, apresentaram flúor em sua composição. Muitas vezes, esses produtos infantis são enriquecidos com fósforo e cálcio, e é comum que a fonte de fósforo venha contaminada com o flúor, sem o conhecimento do fabricante. Por isso, procure evitar que seu filho consuma muito esses alimentos, supervisione sempre o momento da escovação dos dentes e oriente-o para que cuspa todo o produto.
Recomendamos o uso de água mineral para o preparo de sucos, gelatinas e alimentos para as crianças pequenas. O uso de flúor deve ser supervisionado e orientado pelo dentista.